Dois dos mais reconhecidos embaixadores do futebol africano estão prontos para duelar novamente pelo maior prêmio individual do continente. Mohamed Salah e Achraf Hakimi encabeçam uma lista de dez finalistas repleta de talento para o prêmio de Jogador Africano do Ano de 2025 da CAF — uma honraria moldada pela dominância em clubes, marcos internacionais e o peso dos momentos decisivos entre janeiro e outubro de 2025. O campo é forte, as histórias são envolventes, e ainda assim a conversa inevitavelmente se inclina para o “rei egípcio” do Liverpool e o “furacão marroquino” que impulsiona o Paris Saint-Germain pela direita.
Isso não é apenas um concurso de popularidade. É um referendo sobre a temporada: gols e troféus, consistência e auge, liderança e presença em jogos grandes. Salah traz mais uma Chuteira de Ouro e o prêmio de Jogador da Temporada na Inglaterra, após levar o Liverpool ao seu primeiro título da liga em cinco anos. Hakimi responde com uma coleção de troféus em Paris, onde sua influência ultrapassou o flanco direito e moldou a identidade do PSG como campeão da Europa — tudo, exceto o Mundial de Clubes, onde o Chelsea interrompeu a sequência perfeita. Com o período de avaliação se estendendo até outubro, as margens parecem tão estreitas quanto claras: é uma corrida de dois cavalos, em um pelotão repleto de pedigree.
Existem laterais que defendem bem e sobem ao ataque. Existem alas que chegam à área. E existe Hakimi, cujo mapa de calor pelo PSG parece o de um atacante de elite costurado ao corpo de um defensor. Ele foi sistema e solução: prendendo defesas, chegando como elemento surpresa, criando superioridades numéricas e finalizando com calma de centroavante.
A pilha de troféus do PSG conta parte da história — domínio doméstico e o título europeu — e o estilo completa o quadro. Em noites perfeitas, Hakimi transformava controle em corte; nas mais difíceis, era a válvula de escape que quebrava a pressão e mudava o ritmo do jogo. Vice-campeão nas duas últimas edições, chega agora com sua melhor candidatura até hoje.
Por que ele pode vencer agora:
Títulos de elite com impacto direto e repetido na forma de vencer do PSG.
Gols decisivos, não apenas decorativos.
Escassez posicional: ser, talvez, o melhor lateral-direito do mundo em uma temporada histórica pesa nos votos.
Onde persistem dúvidas:
A derrota no Mundial de Clubes tira o enredo do “ano perfeito”.
Estatísticas de defensores raramente impressionam tanto quanto as de atacantes, o que pode influenciar votações.
Ver o nome de Salah nesta lista já virou reflexo. Mas esta indicação não é homenagem — é mérito. Ele foi artilheiro da Premier League, eleito Jogador da Temporada, e liderou o Liverpool de volta ao topo após cinco anos.
O enredo é familiar e poderoso: o astro definitivo de um time campeão na liga mais observada do mundo. E, se a lógica dos votos muitas vezes se apoia na matemática simples de gols e títulos, a conta de Salah segue rica.
Por que ele pode vencer novamente:
Chuteira de Ouro + Jogador da Temporada + título da liga = fórmula difícil de contestar.
Liderança e regularidade: um metrônomo em um campeonato que destrói ritmos.
Afinidade de votos: bicampeão, já consolidado como referência de excelência.
Onde há dúvidas:
Um início de temporada mais lento pode diminuir o brilho dentro do período de análise (jan–out).
A narrativa continental favorece picos inéditos; o teto de Hakimi pareceu mais alto em 2025.
Victor Osimhen (Nigéria, Galatasaray): O vencedor de 2023 reaparece com outro cenário, mas o mesmo impacto: movimentação letal, finalização feroz e a aura de talismã. Mesmo sem a temporada perfeita, seu “mínimo” é o “máximo” de muitos.
Iliman Ndiaye e Pape Matar Sarr (Senegal): Dupla que simboliza avanço tanto nos clubes quanto na seleção. O sucesso nas eliminatórias rumo à Copa de 2026 fortaleceu suas campanhas. Ndiaye é agressivo e direto; Sarr, cada vez mais dono do meio-campo.
André-Frank Zambo Anguissa (Camarões, Napoli): O motor silencioso do meio-campo. Nem sempre aparece nas estatísticas, mas tudo passa por ele. Um voto típico de treinadores.
Fiston Mayele (RD Congo, Pyramids FC) e Oussama Lamlioui (Marrocos, RS Berkane): Os únicos atuando em clubes africanos — um lembrete importante de que a excelência local também conta.
Denis Bouanga (Gabão): Extremo veloz e produtivo. Pode oscilar, mas termina a temporada com números expressivos.
Serhou Guirassy (Guiné, Borussia Dortmund): O artilheiro da Champions League com 13 gols — e um argumento simples: fez o que ninguém mais fez.
O comitê da CAF analisou atuações entre janeiro e outubro de 2025, considerando desempenho em clubes e seleções.
Esse recorte valoriza finais de temporada e o entrelaço com campanhas internacionais.
Critérios-chave:
Contribuições decisivas em jogos grandes.
Combinação entre troféus e liderança.
Peso do papel desempenhado (atacante x defensor dominante).
Hakimi ganha por ser o “outlier” — o defensor que redefiniu sua função. Salah ganha pela familiaridade do atacante vencedor na Inglaterra.

Autor das noites grandes: o desequilíbrio ofensivo em jogos-chave veio muitas vezes do seu lado.
Valor estrutural: permitiu variações táticas (linha de 3, 4 ou 5) sem perda de largura nem agressividade.
Crescendo continental: seu impacto na Champions foi incontornável.
Dar o prêmio a Hakimi seria justo e simbólico — um aceno a uma nova era onde laterais decidem partidas tanto quanto atacantes.
A Chuteira de Ouro da Premier League ainda é a moeda mais valiosa do futebol.
O prêmio de Jogador da Temporada transforma estatísticas em história.
O título inglês confirma liderança e entrega.
Se os votantes optarem pelo caminho mais direto — o melhor jogador do time campeão da Inglaterra — Salah é o voto fácil e legítimo.
Premiações dependem da memória. E a de Guirassy — 13 gols na Champions — não desaparece.
Se Hakimi e Salah dividirem votos entre defesa e ataque, o guineense pode ser o beneficiário silencioso.
Ambos representam o futebol africano dentro do continente. Sua presença reafirma o propósito do prêmio: celebrar a excelência africana em casa e no exterior.
Histórias influenciam votos.
Hakimi chega com a aura de “agora ou nunca”.
Salah, com a chance de um terceiro título, oferece o arco clássico do “retorno do rei”.
O que pesará mais? O defensor que levou o PSG a outro patamar ou o atacante que reacendeu o Liverpool?
Forma recente: o desempenho de agosto a outubro pode desequilibrar o voto.
Peso internacional: as conquistas de seleções contam.
Troféus x gols: o equilíbrio entre conquistas coletivas e brilho individual definirá o vencedor.
Se o painel valorizar “o melhor jogador do melhor time europeu”, Hakimi finalmente vence.
Se priorizar “o craque do campeão inglês”, Salah leva o tri.
Se premiar o feito mais singular, Guirassy surpreende.
Mas tudo indica uma foto de chegada — a disputa mais equilibrada em anos.
Diversidade tática: laterais, meias, pontas e centroavantes em pé de igualdade.
Variedade de trajetórias: craques brilhando na Europa e na África.
Pipeline jovem: o título mundial sub-20 do Marrocos prova que o futuro está pronto.
A lista da CAF é mais mapa do que pôster — um retrato vivo de onde o talento africano floresce.
Seria revolucionária: provaria que defensores também moldam eras.
Praticamente, coroaria a temporada mais completa de um lateral moderno — um jogador que transformou função em arte.
Seria o retorno à ordem clássica: o atacante lendário, coroado novamente.
Também seria um tributo à longevidade — uma afirmação de que consistência ainda importa tanto quanto picos momentâneos.
A primeira classificação de Cabo Verde para uma Copa do Mundo é um dos feitos mais inspiradores do futebol africano recente.
A indicação de Bubista a Técnico do Ano é um símbolo de planejamento e superação.
A presença dos “Tubarões Azuis” na lista de Seleção do Ano, ao lado do Marrocos e da seleção sub-20 campeã mundial, amplia o conceito de sucesso africano.
Se a disputa é entre o melhor atacante da Inglaterra e o melhor lateral do mundo, os detalhes definem.
As marcas de Hakimi nas noites europeias, sua dupla função (criador e finalizador) e o fato de ter reinventado uma posição sugerem que este é o seu momento.
A campanha de Salah foi majestosa; a de Hakimi, transformadora.
Mas é uma diferença mínima — uma decisão que pode pender por tradição ou por visão de futuro.
De qualquer forma, o prêmio coroará um ano em que o futebol africano mostrou sua pluralidade e grandeza em todos os cantos do planeta.